Já reparou que tem gente que acorda 6 horas da manhã só para
tomar aquele banho gelado, ao passo que existem outras pessoas que, mesmo
marcando 32 graus Celsius, o chuveiro tem que estar na temperatura mais quente
possível? Porque disso? Poderia a psicologia dizer algo sobre um processo que
parece ser puramente fisiológico (sentir frio)? E sobre as dores emocionais que sentimos, existem diferenças? Sim, claro, e se você quiser
saber mais, continue lendo.
Frio, calor, dor, arrepios,
enrijecimento, taquicardia, várias podem ser as reações do organismo em
situação de perigo: existem pessoas que travam frente ao medo e não conseguem
se mexer, outras correm feito um guepardo africano, enquanto alguns riem feito
uma hiena ou soltam o intestino e tem que correr para o banheiro por conta de dor
de barriga... cada sujeito desenvolve reações diferentes e típicas de seu
próprio modo de vida.
A psicologia não é uma matemática
que diz que dois mais dois é igual a quatro, porque existe uma série de
elementos micro e macroscópicos na vida de uma pessoa que são muito difíceis de
serem analisadas, e na verdade, ao olharmos para a complexidade humana, pode-se
que em muitos momentos é impossível analisar um sujeito e dizer com 100% de
exatidão tudo sobre ele: sempre haverá erros, falhas, riscos e ilusões em
análises, sejam elas quais sejam. Mas, mesmo diante disso, a psicologia tem
avançado a passos largos nos últimos 200 anos para dizer algumas coisas sobre o
ser humano.
A primeira delas, e que eu queria
compartilhar com vocês, é diferença entre dois conceitos - algesia (ou nocicepção) e
dor:
Algesia é um termo da fisiologia que significa o processo sobre como as pessoas
recebem em seu organismo um estímulo nocivo por meio de células específicas
chamadas de receptores de danos, ou nociceptores, e que o envia para o cérebro.
Por exemplo, imagina que uma pessoa furou a mão com um prego, onde as células
desta parte do corpo vão enviar em milionésimos de segundos uma informação
eletroquímica para o cérebro entender que algo está colocando o corpo em risco. É aqui que funciona o princípio das anestesias cirúrgicas, por exemplo, que interrompem a comunicação entre os membros e o cérebro por meio da introdução de medicamentos. Mas o que nós entendemos como dor é uma interpretação do cérebro deste estímulo
que foi recebido... daí o fato de que algumas pessoas, expostas ao mesmo tipo
de estimula (uma injeção, por exemplo), sentem muito mais dor do que outras.
Ou seja, aquela história de que a
“dor é psicológica” é sim verdade, não no sentido de que ela não existe, afinal
de contas, aquilo que é psicológico também é real, ora bolas! Quando dissemos
que a dor é psicológica é porque cada ser humano a sente de uma forma singular,
a sua dor nunca será igual a minha dor, ou à dor do Joãozinho das Couves... E
isso vale para as dores que são oriundas de estímulos nociceptivos (uma
agulhada, um chute no pé da cama, etc) como para as oriundas de estímulos
sociais aversivos (uma briga, término de relacionamento, um falecimento,
etc...). Neste sentido, a dor, da forma como a sentimos, é, entre algumas
coisas, produto da interação do meu organismo (células, etc) com as minhas
vivências, ou seja, um conjunto de experiências simbólicas e afetivas que foram
vividas anteriormente.
SIM, a dor também é aprendida! E
por isso muitas pessoas conseguem lidar com ela, porque também aprendem formas
para mitigá-las... mas o problema de algumas pessoas é que elas nunca
aprenderam alternativas diferentes para lidar com a dor do que o sofrimento:
sim, essa é outra coisa que preciso falar para vocês – dor e sofrimento são
coisas muito diferentes. A dor é uma
experiência psicológica que advém do contato com uma situação ruim, o
sofrimento é o resultado de um conjunto de pensamentos e sentimentos que giram
ao redor da dor para significá-la... como assim?
Algumas pessoas, ao serem traídas,
por exemplo, ficam pensando assim: “onde foi que eu errei, o que eu fiz para
merecer isso, será que eu fui uma pessoa ruim”, ao passo que outras pessoas
pensam assim “não podemos controlar as ações das outras pessoas, e desta vez,
infelizmente eu entrei em uma situação que me machucou, mas vou dar a volta por
cima”... Ou seja, o primeiro sujeito, se continuar pensando coisas assim, pode
ter maior probabilidade de ficar na dor por mais tempo, do que o segundo, por
conta de uma forma sofrida de pensar.
E porque isso acontece? Porque
nós, assim como aprendemos a andar, falar nosso idioma e a comer usando
talheres, também aprendemos a como devemos nos sentir em cada situação... o
problema é que hoje nós achamos que isso nasceu com a gente, ou que é muito
natural... não, não é! Existem pessoas que aprenderam a sofrer, aprenderam por
conta de uma série de questões: tiveram exemplos, escutaram sobre como deveriam
se comportar, o que deveriam fazer, escutaram conselhos de amigos, parentes,
etc... E nem sempre, tais coisas nos ajudam, às vezes até nos atrapalham.
Todos nós já passamos ou vamos
passar por dificuldades, isso faz parte da vida, temos que aprender a nos
conformar com isso e criar formas de lidar com a dor, o que não quer dizer que
precisamos sofrer interminavelmente com ela... devemos respeitar nossos
sentimentos, nossa dor, nossas frustrações, mas existem diferentes formas pelas
quais podemos olhar para estes sentimentos e ressignificá-los. É fácil,
provavelmente não! Mas é possível!
Você, já sofreu algum tipo de dor
ou dificuldade que foi muito difícil de superar? Não apenas física, mas
psicológica? Eu te faço uma pergunta: como isso afetou ou influenciou a sua
vida, ou a pessoa que você é hoje? Mesmo na dor você tem a possibilidade de
aprender a crescer e ser uma pessoa melhor, mas você consegue fazer esta
escolha? Algumas pessoas conseguem, outras não, o importante é ter com quem
contar nos momentos de dificuldade.
Tenha sempre um bom amigo, um bom
conselheiro, mas também não se esqueça que você pode contar com o apoio
profissional de um psicólogo, uma pessoa que estudou sobre dinâmicas de
comportamento humano para mostrar inúmeras possibilidades para lidar com a dor
e com o sofrimento humano. E não se esqueça, o trabalho do psicólogo é técnico
e científico, não é para dar conselhos, mas sim para ajudar a entender e
explicar como os seus comportamentos se agrupam e que resultados eles te
trazem. Caso você queira saber com mais profundidade, como funciona uma
orientação psicológica profissional, ente em contato para uma avaliação de seu
caso (vou deixar meu whatsapp abaixo pra você).
Espero que este texto tenha
servido para ajudar a esclarecer algumas coisas, e para mostrar que, caso você
tenha chegado nele em caso de dificuldades pessoais, existem muitas
possibilidades para você vencer sua dor.
Um abraço!
-----
Sobre o autor:
Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) graduado
pela PUC Goiás (Brasil), com formação em Terapia de Casais e Famílias pela
Universidad Católica del Norte (Chile). Mestre em Psicologia pela Universidade
Federal de Goiás (Brasil). Possui formações pela Fundação Getúlio Vargas
(Brasil), Fundación Botín (Espanha), Brown University (EUA) e Harvard
University (EUA). Psicólogo Clínico e Organizacional, diretor do Instituto
Psicologia Goiânia.
Contato: (62) 99446-312 (Whatsapp).
0 Comentários