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Imagem: HANDOUT/VATICAN MEDIA/AFP |
Viralizou no mundo inteiro o tapa
que o Papa Francisco deu em uma fiel que o puxou pelo braço no Vaticano,
durante a virada do ano 2020, o que acendeu em muita gente expressões do tipo: “Um
representante de Deus não pode fazer isso”, ou “ele é uma farsa, como pode dar
um tapa em alguém”... pobre Chico!
Imagine a cena: você está saindo
do trabalho, acompanhado do seu avô de 83 anos de idade, e uma pessoa, com
menos da metade da idade dele lhe dá um puxão e apertão que quase o derrubam,
qual seria a sua reação emocional mais humana? RAIVA!
Como diria aquela música
brasileira: “O papa é pop”, mas eu digo, é humano! E como todo bom humano está
sujeito à toda reação possível que um humano possa ter. Nós somos recheados de
emoções diferentes, que variam das mais às menos aceitáveis socialmente, mas
todas elas são úteis para nossa sobrevivência.
Raiva e bondade podem caminhar juntas
Em se tratando de comportamento
humano, as coisas não são sempre simples: “pessoas boas” pode fazer coisas más,
e “pessoas más” podem fazer coisas boas! Aliás, o bom e o mal se confundem em
muitos momentos e podem ser bastante relativos a depender da situação.
A questão é que temos uma
representação social, uma ideia fixa de que um líder religioso deve seguir um
determinado padrão, um protótipo que demonstra que este está moralmente acima
de qualquer “leigo”. Essa crena é reforçada por um ideal cristão “franciscano”
de bondade manifestada em pobreza, mansidão e serenidade, mas nem sempre a
coisa foi assim.
Lembro-me de um episódio em que
Cristo entrou no templo de Israel com um chicote na mão e quebrou todo mundo
que estava lá na porrada! O cara chegou lá com um chicote, derrubou as mesas e armou
o maior barraco:
“E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. E
achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores
assentados. E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo,
também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as
mesas” João 2:13-15
Mas esta história é muito pouco
trabalhada no senso comum, de que até mesmo o Cristo teve seu “dia de fúria”.
Isso significa que devemos parar de encarar a raiva como uma emoção
terminantemente negativa! Ora, se até o Cristo, o Papa sentiram raiva, porque
você também não pode?! Mas a verdadeira questão é: como você tem administrado a
sua raiva?
Tem gente que engole a raiva,
fazendo com que a mesma vire mágoa; tem gente que solta a raiva diuturnamente,
tornando-se uma pessoa colérica e socialmente intragável. O que a psicologia
tem nos ensinado é que a saúde não está na manutenção de nenhum destes pólos,
mas em saber transitar entre os momentos em que é preciso colocar a raiva pra
fora, e os momentos em que se precisa guardar.
E você, tem alguma ideia de como
fazer isso? Se não tem, procure um bom terapeuta, ele pode te ajudar.
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Murillo Rodrigues dos Santos é psicólogo (CRP 09/9447) graduado
pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil) com período sanduíche na
Universidad Católica Del Norte (Chile), mestre em psicologia pela Universidade
Federal de Goiás (Brasil), doutorando em psicologia clínica e cultura pela
Universidade de Brasília (Brasil). Possui formações pela Fundación Botín
(Espanha), Brown University e Harvard University (EUA).
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